Linguagem
o que representa?
Um
conjunto de caracteres e sons que formam a sintaxe.
Ou
milhares de anos de uma vertiginosa história de evolução e disputa?
Vivemos
em uma torre de babel urbana.
Na
qual existem três poderes interdependentes.
O
político, o econômico e o linguístico.
Além
da ordem mórfica, ainda há a censura tácita.
Não
posso dizer nada além das prescritas convenções sociais.
Se
falo demasiadamente, sou inconveniente.
Se
me calo, não estou adequadamente socializado como os demais.
Nos
bairros pobres, ouço assassinarem nossa língua portuguesa.
Com
erros grotescos de conjugação verbal e gírias.
Praticamente
tudo o que é dito é reduzido ao singular.
Nos
logradouros da alta estirpe.
Vejo
um português perfeito, polido com tamanho esmero.
A
ponto de tornar-se reluzente aos ouvidos.
O
serviçal admira a articulação veloz e melindra dos reis.
Estes
nasceram para ordenar.
Pois
ordens devem ser ditas com autoridade gramatical.
Somos
chameleons speakers.
No
trabalho tenho que me ater à formalidade.
Em
todo curriculum vitae é imprescindível dominar outros idiomas.
Poliglotas
são os deuses no mercado.
Numa
entrevista de emprego, gerundismo e pleonasmo são fatais.
Nas
redes sociais, sou logo descartado, se iniciar com um deslize ortográfico
esdrúxulo.
Em
uma roda de bar, sou classificado como altivo, caso siga o padrão culto.
O
modo como falamos não evidencia apenas nossa origem.
Mas
também o grupo a que pertencemos e a etiqueta comportamental deste.
Com
descomunal importância dada à forma, a comunicação se reduz a um simples
adorno.
A
pergunta que me faço, diante da rigorosidade linguística é,
Na
sociedade atual, qual é o valor de um analfabeto?
Certamente
um peso inestimável para o estado, para a economia e para a sociedade.
Sobretudo,
porque podem isentar-se do voto.
E
não são capazes de compreender outdoors e tornarem-se potenciais consumidores
de bobagens.
Muitas palavras, muitas vezes não dizem
nada.
É apenas uma reprodução incessante de algo
padronizado.
Vinícius Del Poço