Tudo junto e misturado


quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Sincericídio

Há muito tempo a humanidade deixou a sinceridade de lado.
O que temos são opiniões certas guiadas por erradas e erradas guiadas por cegas.
Uma pessoa que é sincera vive sozinha ou com o ciclo de amizades restrito.
É tida por todas como inconveniente, insatisfeita, crítica, amarga, pensativa demais.
Numa sociedade que vive um mundo fictício tanto na Avenida Paulista como no Jardim Imbé, ninguém quer ser posto de frente com a realidade.
Valha-me Deus, que ver sangue o quê, agente precisa se divertir também.
A pessoa sincera não agüenta conviver com a família muito tempo, não agüenta piadas que na verdade querem dizer outra coisa, não gosta de jogos com palavras, não agüenta cinismo, não tolera mentira, e geralmente não suporta egos inflados. A pessoa que gosta de sinceridade não consegue ver TV, afinal como falar durante semanas de um apagão que durou apenas algumas horas?
E ai me vem na mente com quem essa pessoa vai se relacionar. Tudo bem, que tem gente que exagera; num lançamento de livro, um amigo meu comentou que um chegado o chamou de lado e ficou falando dos erros do livro que ele identificou ali na hora, o poeta então virou pra esse “amigo” e disse - Cara! Vai roubar a brisa do diabo, esse é meu momento, isso que você ta fazendo é covardia, cara, esse é meu momento.
Concordo com ele, tem hora pra se expressar, você pode continuar sendo sincero, mas com elegância.
Vamos a outro exemplo, quando alguém lhe mostra uma música e pergunta o que você achou, você deve realmente dizer? Ou falar a frase padrão: - Que legal cara! Você que compôs e cantou? Muito boa mesmo, não tinha ouvido nada parecido!
Ou deve ver pelo lado crítico e falar que aquilo não passa de uma mera cópia que a gente ta reproduzindo desde que o primeiro americano fez uma rima sobre sua realidade, ou mesmo uma cópia da primeira música do Caetano quando ele ainda era influenciado por outra cultura, que certamente não foi sincera quando disse que foi inventada pelos mesmos americanos.
Nós vemos por eliminação de cores: a árvore que vemos verde, na verdade, é vermelha, como diz meu amigo Pita; quem se ilude com o céu azul que na verdade só é uma ficção refletindo o azul do mar, pois o céu é negro.
60% da população vendo novela, nos picos isso varia, numa única emissora, onde quem comanda é um grupo chamado Time Life, tempo de vida (o nome combina com o que ele põe na grade da programação); você está vivo enquanto se ilude.
Chegamos a um grau de ilusão tão grande, que eu já vi filas se formarem porque alguém parou numa escada rolante; enquanto eles esperavam, eu descia pela escada comum, lá embaixo eu olhei para a fila e não vi sentido nenhum naquilo.
A manipulação é tão grande, que, quem se expressa sobre isso, começa a ser chamado de maluco, de contestador, e mais uma dezena de nomes.
Os clips trazem o mundo ideal cheio de carros luxuosos, mulheres perfeitas, curtição, bebidas, sorrisos, mas na rua, no seu quarto, no seu casamento, no seu emprego, tem tanta frustração, nos olhos dos telespectadores tem tanta solidão.
Todos somos marionetes, mas acho que ainda vale a pena ser um sincericida; afinal a gente ainda enxerga algumas cordas.


Ferréz

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Esses videos mostram como se faz necessário a saída do sapo barbudo analfabeto e ignorante, para a entrada de alguém culto e versado em todos os assuntos.

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