Do Brasil Econômico - Por Marcelo Cabral
Real Força Aérea inglesa estuda trocar seus jatos de combate supersônicos por aeronaves brasileiras na luta contra guerrilheiros, em uma transação que pode chegar a bilhões de dólares.
O Reino Unido estuda trocar uma parte de seus sofisticados jatos de combate Harrier e F-35 Lightning pelos aviões turboélice brasileiros Super Tucano - fabricados pela Embraer - para combater o Talebã e a Al Qaeda no Afeganistão.
A afirmação foi feita na semana passada pelo comandante-geral do Exército britânico, general David Richards, durante uma palestra no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres.
"Podemos comprar vários Tucanos pelo custo de uns poucos F-35", disse ele. A explicação para o interesse inglês é financeira: as Forças Armadas do país devem sofrer um corte de 20% no seu orçamento após as próximas eleições para o parlamento, marcadas para junho. E o preço do aparelho brasileiro é dez vezes menor que o de um F-35, antes previsto para ser o principal substituto do Harrier na Real Força Aérea (RAF) a partir dos próximos anos.
Para o general Richards, a troca vale a pena devido ao custo-benefício superior dos Tucanos em operações do tipo que são realizadas no país asiático.
Segundo o pesquisador da Unicamp Marcos José Barbieri Ferreira, especializado em aeronaves militares, não faz muito sentido usar aviões projetados para atuar em ambientes sofisticados - espaços aéreos carregados de caças inimigos, mísseis antiaéreos e contramedidas eletrônicas - para bombardear guerrilheiros cuja única arma muitas vezes é uma metralhadora. "É como usar um carro de Fórmula Um para perseguir bandidos no meio da rua em São Paulo", resume.
Negócio de bilhões
O tamanho potencial do negócio fica na casa dos bilhões de dólares. Segundo analistas, o mercado para aeronaves de ataque leve deve atingir a casa de 700 aparelhos por volta de 2020, dos quais metade deve ser empregada no eixo Afeganistão/Paquistão.
Levando-se em conta um custo médio entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões por aparelho, percebe-se o porquê desse nicho ser visto com cobiça pelas fabricantes. "É um mercado extremamente promissor", afirma Ferreira. Procurada pelo Brasil Econômico, a Embraer se limitou a dizer que "não comenta sobre a possibilidade de novos negócios".
Algo que pode facilitar um possível negócio com os ingleses é o conhecimento que a RAF já possui dos produtos da Embraer, pois o país usa a versão "comum" do Tucano para formar seus pilotos.
"Eles já conhecem o ‘Tucaninho', então se estão pegando a nova versão estão usando a cabeça", aponta Ozires Silva, ex-presidente da Embraer. Mas também existem barreiras.
Uma fonte de mercado inteirada do assunto vê a possibilidade da influência do resultado do programa FX-2 - a concorrência aberta pela Força Aérea Brasileira para a compra de caças - no desenrolar das negociações.
"A BAE (maior indústria aeroespacial da Grã-Bretanha) não vai bem das pernas. E eles fazem vários componentes do Gripen (caça sueco que participa da disputa no Brasil). Sem dúvida eles vão tentar amarrar uma compra do Tucano a uma vitória do Gripen", aposta.
A boa notícia é que a Embraer é hoje a única companhia de peso que atua no segmento em todo o mundo.
"Os EUA tentaram criar aviões desse tipo durante a Guerra do Vietnã, mas depois desistiram, preferindo desenvolver aparelhos para combater os soviéticos", explica Ferreira.
Por sua vez, nos anos 1980, o Brasil enfrentava a ameaça de traficantes e da infiltração de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na região da selva amazônica, e sentiu a necessidade de um avião específico para esse tipo de operação.
A partir de um modelo já existente, o EMB-312 Tucano, foi criada uma nova carenagem, nova estrutura, novo motor e vários sistemas de comando.
Foi o nascimento do Super Tucano, único modelo contemporâneo criado especificamente para atuar na COIN (contra-insurgência, na sigla em inglês).
O aparelho da Embraer possui ainda a vantagem de já ter sido testado em combate real.
"A Colômbia é o principal usuário estrangeiro, e teve muito sucesso nos ataques contra as Farc", diz Expedito Carlos Stephani Bastos, pesquisador de assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora.
"O Super Tucano tem uma eletrônica de bordo avançada, semelhante à de muitos caças", complementa Ferreira. O Super Tucano é capaz de usar recursos sofisticados, como mísseis e designadores de mira à laser, além de realizar ataques mais precisos.
O consumo de combustível também é inferior: "O Harrier gasta um bocado de combustível quando tem que voar lento, e daí o alcance fica prejudicado. Já o Tucano vai longe pra burro", resume Ozires Silva.
"O avião é bom e o mercado é grande. Se os países mais ricos começarem a comprar, a Embraer vai disparar", conclui o pesquisador da Unicamp.
Pinçado de:
http://www.brasileconomico.com.br/noticias/reino-unido-avalia-compra-de-super-tucanos-da-embraer_76114.html
Tudo junto e misturado
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
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