Faltam faixas para bicicletas e calçadas continuam esburacadas; obras também não tiraram do papel ações para amenizar o barulho.
Do Estadão - Bruno Tavares, Renato Machado
Oito meses depois de dar início à ampliação da Marginal do Tietê, obra que consumiu cerca de R$ 1,3 bilhão dos cofres públicos, o governo do Estado ainda não atendeu a todas as exigências e contrapartidas ambientais e paisagísticas feitas pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA).
Os efeitos são sentidos por quem mora, trabalha, estuda ou utiliza a Marginal em seus deslocamentos. As ações para amenizar o barulho criado pelo intenso tráfego de veículos, por exemplo, ainda não saíram do papel. O item 8 do Alvará de Licença Ambiental de Instalação do projeto Nova Marginal determinava a colocação de "barreiras acústicas integradas a barreiras vegetais e/ou emprego de pavimento silencioso" nos trechos próximos de unidades de saúde, escolas, conjuntos habitacionais e repartições públicas.
O Estado percorreu a Marginal nos dois sentidos e não encontrou nenhuma das soluções exigidas pelo documento. No trajeto de quase 50 quilômetros (ida e volta), a reportagem encontrou pelo menos sete escolas, duas repartições públicas, um hospital e dois conjuntos habitacionais que têm frente ou estão a poucos metros da via. Em nenhum dos locais havia barreiras sonoras ou asfalto silencioso, tampouco sinal de obras para a instalação.
Ciclistas. Outra exigência do alvará, prevista no item 4, era a apresentação do projeto executivo para a construção de formas de travessia não-motorizada - em particular para bicicletas - nas pontes, alças de acesso e nos futuros viadutos. Até agora, porém, os ciclistas continuam tendo de dividir espaço com carros, motos, ônibus e caminhões. Nem mesmo as pontes reformadas e já entregues, como a do Limão, das Bandeiras, Casa Verde, Vila Maria e Freguesia do Ó, ganharam ciclovias ou faixas preferenciais para ciclistas. Também não há nos canteiros da obra nenhum indicativo de que isso esteja sendo feito.
"Todas as pontes deveriam ter acessos para os ciclistas e pedestres", defende o cicloativista André Pasqualini. Uma das alternativas propostas pelos usuários era compartilhar as calçadas ao longo da Marginal entre pedestres e ciclistas, mas a ideia acabou abandonada. "Não haveria grande problema, mesmo porque as calçadas da Marginal não são muito utilizadas por causa da poluição e dos riscos. Então seria uma forma de retirar as bicicletas da via", completou Pasqualini.
Calçadas. Os pedestres também têm sofrido com as obras na Marginal. Apenas nas imediações das pontes reformadas - trechos de no máximo 500 metros de extensão - as calçadas estão em ordem. No documento em que aprovou o Estudo de Impacto Ambiental (Eia) da obra, o Conselho Municipal do Meio Ambiente (Cades) apontava a necessidade de melhorias em "calçadas, sarjetas e meio-fio". Sugeria ainda a criação de "calçadas verdes", a fim de aumentar as áreas permeáveis ao longo da via, uma das maiores preocupações dos ambientalistas desde que o governo anunciou as obras. "Para a gente que faz tudo isso aqui a pé não mudou muita coisa", afirmou o maquinista de tinturaria José Almeida Leite, de 59 anos, que diariamente caminha pelas calçadas da Marginal para chegar ao trabalho, na altura da Ponte da Vila Guilherme, na zona norte da capital. "Ainda está bem esburacado."
Luz. A iluminação das calçadas, outra das metas impostas pelo Cades, também não foi atendida. A antiga rede de iluminação foi retirada durante as obras e afetou ruas paralelas, que estão às escuras, assim como algumas pontes. Os contratos de iluminação foram assinados no dia 17 de março, ao custo de R$ 53,3 milhões. Na semana passada, a Dersa, empresa responsável pelo gerenciamento das obras, informou que o sistema de iluminação estará em funcionamento até a conclusão dos trabalhos de reforma da Marginal, prevista para outubro.
O Cades também exigia o plantio de 83 mil mudas de árvores ao longo da Marginal e de bairros afetados pela supressão vegetal criada pela obra. De fato, nota-se que milhares foram plantadas nos últimos meses. Entretanto, boa parte dos arbustos está com aspecto seco, como se não tivesse vingado.
Resposta. Procurada na terça-feira à tarde, até as 23 horas de ontem a Assessoria de Imprensa da Dersa não havia se manifestado sobre os pedidos da reportagem. Entre os esclarecimentos encaminhados à empresa estavam os prazos para a conclusão das exigências e contrapartidas ambientais e paisagísticas feitas pelo Cades, além dos motivos pelos quais determinadas metas, como as ciclovias sobre as pontes e alças de acesso, não haviam sido iniciadas.
O QUE FALTA FAZER
Barulho
Instalação de barreiras acústicas integradas a barreiras vegetais e/ou pavimento silencioso nos trechos próximos a hospitais, escolas, conjuntos habitacionais e repartições públicas
Ciclistas
Construção de formas de travessia não-motorizada (em particular bicicletas) nas pontes, alças de acesso e futuros viadutos
Calçadas
Melhorias em calçadas, sarjetas e meio-fio, além da criação de "calçadas verdes", a fim de aumentar as áreas permeáveis
Luz
Iluminação das calçadas e dos viadutos. A antiga rede foi retirada, o que deixou ruas e pontes às escuras. Nova iluminação deve ser entregue em outubro
Árvores
Plantio de 83 mil mudas na Marginal e em bairros afetados pela supressão vegetal criada pela obra. Milhares foram plantadas nos últimos meses, mas boa parte aparenta estar seca
Pinçado de:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100401/not_imp532192,0.php
Tudo junto e misturado
quinta-feira, 1 de abril de 2010
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